27.6.05

amores


in



a noite tinha sido anunciada

vestiu-se de suavidade e de veludo

forrou-se de uma espera angustiada



por fim o frio da noite ficou mudo

ao espanto da ausência já notada

ninguém viera pois pelo caminho



buscar aquela flor ali pousada

misto de colombina sem entrudo

e de mulher amante sem carinho.

6.6.05


como as pedras arredondando memorizam

o murmúrio da água que rolou

assim me dobro sobre mim eternizando

o sonho que em mim nasceu e se formou.

4.6.05


thanks to


palavras cercam poetas ainda bem que o não sou

umas pesam como pedras que é preciso carregar

outras saltitam em volta quais crianças atrevidas

impondo-se de tal forma que é urgente brincar.

há ainda as que são aves e lhes mexem nos cabelos

e os pobres dos poetas acabam por se elevar

cercados de cantos, penas, num descoordenado voo.


ainda bem, não sou poeta fico daqui a olhar.


3.6.05



estendo os braços que vazio!

não encontro a tua mão

apenas ar o ar é frio

faço uma festa a um cão

que me segue é cão vadio

tão carinhoso e macio

como era tua ilusão.




guardo a mão apresso o passo

fujo da minha memória.

fecho-me em mim, que cansaço!

sim, livrei-me do teu laço

mas não me sabe a vitória.

2.6.05


La persistance de la mémoire - Dali 1931



a memória persiste ácida e intensa

nos momentos menos sãos menos propícios

a perder-se a gente na argamassa imensa

de sentires passados em suplícios



raios partam a memória! não cansei

de dizê-lo desde que o senti

que exististe, árduo amor, eu sei

deixa agora fingir que te esqueci.

1.6.05


trigal- Javier Lorente



ondulantes trigais, adolescente

fim de estação, primeira chuva cai

aroma intenso que da terra sai

erótica experiência o corpo sente




que fazer ao desejo imperioso

que lhe corre já no sangue quente?